PIB do próximo ano depende de petróleo e minério
December 1, 2014
Os economistas que se debruçam sobre dados de crescimento apostam que o Produto Interno Bruto, o PIB, brasileiro em 201 5 será sustentado por dois setores bem tradicionais da economia, ligados à exportação de matérias primas. São eles, o petróleo e o minério de ferro. Enquanto o País deve crescer algo como 0,2% neste ano, petróleo e mineração, juntos, caminham para fechar 2014 com expansão de 5%. A perspectiva é que cresçam outros 4% no ano que vem, também acima do PIB do País, que tende a ficar próximo de 1%.

O economista Irineu de Carvalho Filho, da área de Pesquisa Econômica do Banco Itaú BBA, explica a razão: "O que conta no cálculo do PIB é a quantidade produzida, e ambos os setores têm investimentos e contratos que vão se materializar".
À luz do que ocorreu nas últimas semanas, a aposta parece um grande contrassenso. Os preços dos dois produtos estão em queda no mercadointernacional, sem perspectiva de recuperação no curto prazo. O barril depetróleo em Londres fechou a semana cotado a US$ 70. Em junho chegou aopico de US$ 115. A Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep),que responde por um terço da produção mundial e regula a oferta e os preços, sinalizou que não vai intervir.
O minério de ferro está custando US$ 68 a tonelada. Recentemente, o Citibank previu que ele pode cair a US$ 55, em parte porque a China está superestocada. Nos setores de extração mineral, se o preço ficar baixo, pode não cobrir o custo de produção e provocar o fechamento de minas ou transformar poços em fontes de prejuízo. Há outra questão que lança dúvidas sobre o potencial de concretização de tal tendência. No Brasil, quando se trata de minério de ferro e de petróleo,indiretamente o que está sendo considerado é a capacidade de expansão deprodução de duas empresas, a da Vale, maior produtora global de minério de ferro, e a da Petrobrás, maior estatal brasileira.
Hoje a Petrobrás é pivô de escândalos que colocam em xeque a sua gestão e a capacidade de investimentos.Entre os descrentes em relação ao potencial dessas matérias primas está o economista Vinicius Carrasco, professor e pesquisador da PUCRio. Carrasco é coautor de um estudo que avaliou as razões para o baixo crescimento do PIB, intitulado "A Década Perdida 2003-2012". "Investimentos em expansão foram feitos, mas, quando a gente olha o comportamento do resto do mundo, nada indica que a demanda vai compensar o aumento de capacidade instalada no curto prazo".
Um exemplo da complicada relação entre preço e produção está aqui mesmo, no pré sal. Se o preço do barril do petróleo cair abaixo de US$ 60, pode comprometer a exploração dessa área. "Também não temos garantias de que a Petrobrás conseguirá levar a cabo os planos de investimento", diz Carrasco.
Previsão de alta. As apostas em petróleo e mineração levam em conta que os setores vivem uma retomada consistente e vão mantê la em 2015, em parte por causa das características da Vale e da Petrobrás.
A Petrobrás de fato vive um momento de depuração. Tem vários projetos atrasados e outros enroscados nas denúncias da operação Lava Jato. A capacidade de refino e a oferta da matéria prima não acompanharam o crescimento da demanda de combustíveis, forçando a Petrobrás a importar.
Apenas na semana que passou, o preço da sua ação acumulou queda de 10%.
No entanto, a estatal tem uma expertise ímpar na exploração de petróleo em
águas profundas. No ano que vem, espera-se a entrega de projetos
importantes, como a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que está
atrasada.
O ritmo neste fim de ano reforça essa boa expectativa. Em outubro, a estatal
bateu o recorde mensal de produção dos últimos quatro anos, com extrações
do pré-sal. Nas três primeiras semanas de novembro, o petróleo foi o principal
produto das exportações brasileiras. A empresa também é movida pelo instinto
de sobrevivência para expandir a produção. "Tem uma dívida de US$ 110
bilhões e precisa gerar caixa para cumprir compromissos", diz Pedro Galdi,
analista chefe de investimento da SLW Corretora de Valores e Câmbio.
No caso do minério de ferro, a grande aposta é a Vale. Além de a empresa ter
na mina de Carajás o melhor minério de ferro do mundo, o que reduz os custos
de produção, conta com um sistema próprio de logística extremamente
azeitado. "A Vale pode tirar o minério do meio da selva no Brasil e entregar na
China ao custo de US$ 50 a tonelada", diz Galdi. Outras empresas ficam
inviáveis quando o preço baixa de US$ 80.
O setor mineral responde por 18% da balança comercial brasileira e o minério
de ferro, por cerca de 80% da pauta de bens minerais do País. O Brasil ocupa a
3ª posição mundial como produtor, atrás apenas da China e dos Estados
Unidos.
Fonte: O Estado de S. Paulo